Deus permite a Igreja errar?
Dave Armstrong
Parece-me que os críticos católicos alegam que a infalibilidade e a indefectibilidade [da Igreja] precisam disputar por uma dessas duas coisas:
Deus é incapaz de preservar a doutrina cristã do erro ao longo da história por meio (através destes, sem Seu auxílio) de homens caídos, imperfeitos, infalíveis e de uma Igreja imperfeita dirigida por homens (isto é, pecadores).
Deus era, obviamente, capaz de fazer isso se quisesse, mas escolheu (mesmo sendo onipotente) não fazê-lo.
Se a escolha é por #1, por que você acredita nisso? É por causa de uma negação da onipotência de Deus?
Se a escolha é por #2, por que você acha que Deus não poderia proteger a verdadeira teologia da corrupção, especialmente à luz do ensino bíblico de que o Espírito Santo nos guiará para à plenitude da Verdade?
Tal proteção da Sua Igreja está em função da onipotência divina, como consta nas Escrituras e em harmonia com o que de fato vemos Deus fazer, pois envolve algo da mais alta importância para o maior bem das almas.
Basicamente meu argumento aqui é uma sutil variação do reductio ad absurdum: um exercício de consistência lógica articulado com dados da revelação que católicos e protestantes têm em comum. E, como de costume, estou provando premissas, porque penso que elas não foram analisadas suficientemente neste caso.
De toda forma, se admitirmos que Deus permite o erro, o quanto disso Ele permite? Deus se afasta a uma certa distância e então deixa-nos à nossa própria sorte? Não era essa a visão do Concílio de Jerusalém (nem de São Paulo). Tudo corria bem, e “parecia bom ao Espírito Santo e a nós” (Atos 15,28). Mas isso foi antes da época em que as divisões e as denominações seriam racionalizadas como se estivessem amparadas remotamente e de alguma maneira nas Sagradas Escrituras.
Geralmente comparo a Igreja infalível com a Bíblia inspirada e infalível, porque a maioria dos cristãos ortodoxos, ao longo da história, manteve uma alta visão das Escrituras. [Mas se] Deus fez isso por meio de homens pecadores, logo a pergunta que vem à tona é: “Por que com a doutrina e os credos isso seria diferente?” Esta é uma pergunta muito séria (e acredito, importante).
Não vejo isso como [um problema de] simples epistemologia; ao contrário, esta é uma questão de confiança em Deus e de aceitar o que parece óbvio (ao menos pra mim é) nas Escrituras; ou seja, é uma questão de revelação, que existe à parte de uma lógica epistemologicamente necessária. Aceitamos o que é dito pela fé. Pode-se dizer que se trata também de hermenêutica, porque o que eu vejo na Bíblia parece perfeitamente harmonioso com uma Igreja investida de autoridade e preservada do erro.
Autor: Dave Armstrong
Título original: Indefectibility: Does God Protect His Church from Doctrinal Error?
Publicação original: https://www.patheos.com/blogs/davearmstrong/2017/09/indefectibility-god-protect-church-doctrinal-error.html