A volta do filho pródigo
Nunca imaginei um mundo que não houve Deus sendo ele o Criador de todas as coisas, também não me lembro de ter tido algum pensamento ateísta em minha vida. Nasci em uma família de “linha” católica: mesmo tendo sido batizado na Igreja Católica, ao longo da vida percebi que meus pais não conheciam a fé que diziam professar.
Entre os anos 70 e 80 eu e minha família fomos morar em Alagoas, estado natalício do meu pai. Lembro-me que morávamos numa casa enorme, se bem quando se tem 4 para 5 anos tudo parece ser enorme.
Quando meu pai saía de madrugada para trabalhar numa feira onde vendia roupas, logo em seguida, eu acordava. Saia do meu quarto onde dormia eu e meu irmão e ia para o quarto da minha mãe me deitar na cama dela. Para ir ao quarto dos meus pais era necessário fazer a travessia pela sala. Em uma dessas idas pela madrugada, me deparei com uma situação estranha. Ao atravessar a sala fiquei olhando para alguns “raios luminosos” que lá estavam, estes raios iam do teto até o chão, se assemelhavam a trovões e eram coloridas, alguns azuis e outros na cor vermelha e se movimentavam de um lado para o outro. Não me recordo se isto se repetiu mais de uma vez, mas lembro-me que um dia ao deitar na cama com minha mãe eu a chamei e disse: “Mãe a sala está cheia de ‘raízes de árvores’”.
Aos 7 anos, morando em Osasco (São Paulo), certa vez indo tomar banho (o banheiro era fora de casa) cantarolando uma música que achava engraçada, ao chegar ao banheiro vi uma espécie de “mão colorida”, com as mesmas cores dos “raios luminosos” e gritei fortemente. Naquele dia senti medo, muito medo.
Depois disso o medo passou a ser como que um companheiro da minha infância e tive outras experiências: certa vez, estando sozinho presenciei uma folha de jornal pegar fogo espontaneamente, o que observei sem tentar entender.
Quando fiz 9 anos, morávamos na cidade de Santo André (São Paulo), no mesmo quintal de uma outra casa, ao fundo. Na casa da frente morava um casal amável: a Dona Nelcina (batista) e o Sr. Antônio (católico). Por volta dos meus 13 anos, este casal mudou-se e alugaram a casa da frente para uma família de japoneses. Uma família extremamente irreverente e diferente do que às vezes notamos em famílias orientais japonesas. Esta família possuía uma peculiaridade: eram umbandistas. Foi aí que passei a ter meu primeiro contato com um sincretismo religioso e ocultista.
Dos meus 15 aos 17 (pelo que me recordo) estive dentro de um terreiro de umbanda, passando pelo rito de iniciação “desenvolvendo a mediunidade”: atabaques, guias no pescoço e vestimentas brancas nos dias de “giras” passou a ser meu mundo. Nessa época já havia feito a primeira comunhão. Lembro-me que pensava que Deus poderia estar em qualquer lugar: nas religiões afros, orientais como a budista e outras filosofias, menos numa Missa da Igreja Católica.
Depois de um tempo, meu irmão começou a aparecer em casa com uma bíblia das edições
Ave Maria, eu e minha mãe começamos a imaginar que ele havia se tornado “crente”. O fato é que meu irmão havia conhecido a Renovação Carismática Católica (RCC). Neste período, descobri em minha própria casa um livro que pertencia ao meu pai com o título de “A Face Oculta da Mente”, do saudoso Pe. Oscar Gonzales Quevedo.
Minha mente já estava em um turbilhão de pensamentos e dúvidas: Afinal, existiria de fato uma religião que poderia ser única e revelada? O mal personificado existe? O que eram estas coisas que ocorrera comigo em minha infância e adolescência? Minha família não era um lar que se poderia dizer de harmonia e compreensão, sempre fora muito turbulento, por diversos fatores, e eu sempre atribuía isso a forças sobrenaturais.
Depois de um tempo meu irmão apresentou um amigo dele, que vou chamá-lo de Jonas. Este amigo foi até nossa casa algumas vezes. Um dia, eu e minha mãe pedimos que orasse por nós. Ele orou: senti-me mal, como quem quisesse se soltar de correntes. Nesse dia, eu e minha mãe queimamos nossas roupas brancas da Umbanda.
Comecei a frequentar as Missas e ir num grupo de oração na Catedral da Sé. Depois de um breve tempo de caminhada conheci duas garotas espíritas kardecistas e nos tornamos amigos.
Detalhe: já havia passado pela Igreja Messiânica Mundial do Brasil, fazendo curso para me tornar membro e passei brevemente pelo candomblé (trabalho) e pelo budismo (reuniões).
Lá estava eu novamente maravilhado com o mundo ocultista, frequentando o espiritismo sem que ninguém soubesse. Escondi a bíblia que havia ganho do Jonas: não queria ler Dt 18. Então, um dia indo com minhas amigas a um centro espírita, desejei falar com a dirigente. Chegando até ela, sendo quase que empurrado, disse:
– Gostaria muito de falar com a senhora.
Ao que ela me respondeu:
– Não importa o que você faça, você sempre voltará para cá.
Aquilo foi como uma confirmação para mim, fiquei feliz! Como ela poderia ter me dito
estas palavras sem ao menos eu concluir o que quisera dizer. Voltei para casa confiante e decidido:
seria espírita.
Passado algum tempo, um certo dia, Jonas foi até o meu local de trabalho dizendo que precisava falar comigo, pedi que esperasse pois logo seria meu horário de almoço. Então, fui até o Jonas, que estava me aguardando, e tivemos uma breve conversa onde ele me diz:
– Marcelo, você conhece aquela parábola em que Jesus fala sobre o pastor que deixa as 99 ovelhinhas e vai atrás da ovelha perdida?
– Sim – respondi.
E Jonas continuou:
– Pois é Marcelo, eu estava rezando por você diante de minha imagem de Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora tocou meu coração, Cristo está chamando você de volta.
Naquele instante, toda a certeza, firmeza e esperança que havia colocado no ocultismo se transformou em poeira diante dessa frase “Cristo te chama de volta”. Foi como se tudo ficasse claro, suave ao mesmo tempo em que um sentimento de amor me inundava, senti alegria e fome de Deus.
Voltei firmemente para a Igreja de Cristo, li a vida dos santos, comecei a estudar a fé. Até que entendi que Deus pode se valer de vários momentos e até religiões para tocar o coração do homem, conduzindo-o onde se encontrava a plenitude da Verdade: a Santa Igreja Católica. Recebi o sacramento do crisma aos 21 anos pelas mãos de Dom Claudio Hummes, desde então não paro de aprender e de conhecer irmãos da esplendorosa fé.
“Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova… Tarde Te amei!” Santo Agostinho