MINHA JORNADA PARA O CATOLICISMO: Como a Liturgia Abriu Meu Caminho para Roma

Nome: Leonardo Rander Assé Júnior (Leo Rander)

Ano de nascimento e cidade natal: 1994/ Belo Horizonte, MG

Cidade onde mora hoje: Minneapolis, Minnessota (EUA)

Denominação a que pertencia: ICM (até 2016) IPB (até 2018)

Batismo na Igreja Católica: 15/07/2018

Crisma: 20/04/2019

Formação\profissão: Bacharel em Farmácia, mestre e doutorando em Química.

E-mail para contato: rande024@umn.edu

Não é muito comum deparar-se com um protestante de berço que se converteu ao catolicismo (1). Isso ficou claro para mim ao observar a reação de surpresa de muitos ao meu redor. Espero, com este breve testemunho, relatar os principais motivos de meu “retorno à Casa”.

Nasci e fui criado na Igreja Cristã Maranata (ICM), uma igreja pentecostal que se separou da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) em Vila Velha, ES, no final dos anos 60. Apesar de ter sido apresentado à mensagem central do Evangelho e ao panorama da narrativa bíblica nessa denominação, muitas de suas doutrinas não são saudáveis para a vida cristã, deixando os fieis imaturos espiritualmente. Fiz parte dessa denominação até meus 21 anos e, durante todo esse tempo, raríssimas vezes frequentei outra denominação, pois tal prática era desencorajada pelos líderes da ICM. Apenas entre 2014-2015, enquanto estudava fora do país, eu fui exposto a muitas outras formas de cristianismo de forma mais livre. Foi muito interessante fazer amigos que criam no Evangelho assim como eu cria, mas que tinham crenças particulares muito diferentes das minhas. Comecei, então, a questionar os ensinamentos particulares da ICM, que eram muito sectários, e me abri à possibilidade de ter crescido e ter aprendido equívocos juntamente com a Verdade.

Comecei então a buscar a pura Verdade. A princípio, deparei-me com a teologia reformada calvinista. Comecei a investigar mais essa vertente e, eventualmente, decidi sair da ICM e me associar à IPB. Passei um pouco mais de dois anos no presbiterianismo, mergulhando mais e mais no calvinismo e tomando essa “cosmovisão” como verdadeira e suficiente. Todavia, eu não me sentia completamente em paz, e ainda havia uma inquietação em mim. Por causa da importância dada pelos reformados às Escrituras, decidi que precisava e queria passar mais tempo lendo-as. Contudo, planos de leitura anuais sempre eram mal sucedidos comigo. Eu precisava de um plano que funcionasse melhor para mim (2).

Meu interesse em liturgia começou quando eu, ainda protestante, descobri e comecei a usar o “Lecionário” como devocional diário. O “Lecionário (3) ” é um movimento no protestantismo brasileiro de resgate do uso do lecionário e do calendário cristão. Iniciava-se o ano litúrgico B (2017-2018) com o tempo do Advento. Comecei, então, a rezar diariamente com o ofício e com as leituras diárias do “Lecionário”. Conforme as semanas passavam, notei algumas mudanças positivas na minha vida espiritual. Isso me motivou a aprender mais sobre o calendário cristão, sobre o lecionário e sobre liturgia em geral. Não demorou muito para eu perceber que tais práticas devocionais foram feitas e apontam para práticas comunitárias, no culto a Deus quando a Igreja se reúne todos os domingos. Concluí que minha leitura diária das Escrituras me preparavam melhor para a liturgia comunitária e vice-versa. Então, comecei a sentir uma dissonância entre minha vida devocional e comunitária.

Depois de tentativas frustradas de implementação desse tipo de liturgia na comunidade da qual fazia parte, comecei a procurar outras denominações protestantes nas quais existisse essa conexão entre as práticas de culto devocional e comunitárias. Acabei me deparando com a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e seu Livro de Oração Comum. À medida que lia sobre, crescia em mim a vontade de visitar um de seus cultos. E assim que visitei, sabia que queria mais do que experimentei. A essa altura, a Quaresma estava prestes a começar. Por motivos de horário, não seria capaz de ir ao culto anglicano para Quarta-Feira de Cinzas, mas queria muito viver a Quaresma pela primeira vez. Foi quando um pensamento me veio à mente: “por que não ir à missa católica? A liturgia é tão semelhante(4) … Eu poderia pelo menos testar, nem que seja para eliminar de vez da lista.” Como um bom protestante na época, estava um pouco preocupado com a ideia de ir à missa devido à imagem “demonizante” que é pintada dos católicos pelos protestantes brasileiros.

No dia 14 de fevereiro de 2018, fui à missa intencionalmente pela primeira vez. Era Quarta-Feira de Cinzas e escolhi uma paróquia longe de casa para evitar escândalo na minha comunidade protestante. Por isso, fui à Igreja de São José, bem no coração de Belo Horizonte. Ao chegar à igreja, peguei um folheto com a liturgia e escolhi um lugar bem no meio da igreja, ao lado de uma turista – uma senhorinha muito simpática que me lembrou da minha vó, que Deus a tenha. À medida que a missa acontecia, surpreendentemente, percebi que não estava desconfortável com as imagens dos santos e com nenhuma outra característica peculiarmente católica do prédio em si. Após a consagração, durante a oração do Pai-Nosso, me senti completamente “em casa”, como se realmente fosse para eu estar ali. Eu senti uma paz que confirmou que foi Deus que me levou até ali(5) .

Passei o tempo da Quaresma pesquisando mais sobre a Igreja Católica, sua origem, sua doutrina e sua liturgia. A série “Catholicism” do Bispo Robert Barron foi crucial nesse processo, tal como foram vários canais do YouTube, por exemplo o do Pe. Mike Schmitz e do Pe. Casey Cole, OFM. Passei tempo em oração a Deus para tentar entender o que era tudo isso e como eu deveria prosseguir. Em toda minha vida, se tinha uma coisa que não queria ser, era católico. Nem passava pela minha mente. Ao final da Quaresma, participei da Semana Santa naquele ano, e foi incrível. Quando chegou na manhã do Domingo de Páscoa (1 de abril 2018), no momento da Consagração, eu acreditei na Presença Real de Cristo na Eucaristia, que era Jesus mesmo ali na minha frente no altar. Por isso, ficou claro em meu coração que o Senhor estava me conduzindo para a Igreja Católica. Então decidi: quero ser católico.

Na semana seguinte começava as aulas de catequese para adultos. Fui batizado na Igreja de São José no dia 15 de julho de 2018, tornando-me, então, oficialmente católico. Duas semanas após meu batismo, me mudei para Minneapolis para começar o doutorado, por isso, continuei as aulas de catequese aqui em preparação para a Crisma. Finalmente, no dia 20 de abril de 2019, fui selado com o Espírito Santo na Crisma, sendo agora um católico completamente iniciado e pronto para a missão cristã. Que jornada! E sei que é só o começo.

Hoje posso afirmar, essa foi a melhor decisão que já tomei na minha vida. Não me arrependo. O caminho não é fácil: contar para amigos e família foi difícil em alguns momentos, mas a certeza de que estou na Igreja fundada pelo Nosso Senhor e a graça de poder o receber no Santíssimo Sacramento superam qualquer coisa.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

AMDG,


Leonardo Rander

1 (Pelo menos eu pensava que não, até descobrir este Apostolado).

2 https://lecionario.com/minha-experi%C3%AAncia-com-o-ano-crist%C3%A3o-e-o-lecion%C3%A1rio-2017-2018-da0e99eef181

3 https://lecionario.com/

4 Eu acabei indo à missa pela primeira vez por acidente na ocasião dos 120 anos de Belo Horizonte, em dezembro

de 2017. Haveria uma cantata de Natal após a missa, mas acabei chegando muito mais cedo e fiquei pra missa. Eu

não entedia nada do que estava acontecendo na época.

5 Obviamente, hoje eu tenho certeza que foi Ele que me trouxe para Casa.