Os católicos são canibais?
O dicionário inglês Miriam-Webster define canibalismo como:
- O geralmente ritualístico ato de um ser humano comer carne humana
- Ter a carne de um animal comida por um outro animal da mesma espécie.
O canibalismo implica aqui na mastigação, deglutição e metabolização real de carne e sangue após ou durante a morte de um ser humano. Se, ao menos, nos determos à definição #1.
Católicos não fazem nada disso na Eucaristia. Mesmo que Cristo esteja substancialmente presente — em corpo, sangue, alma e divindade — na Eucaristia, os acidentes do pão e do vinho permanecem. É importante definir aqui os termos. Quando a Igreja ensina que, durante a missa, ocorre a transubstanciação do pão e vinho em corpo, sangue, alma e divindade de Cristo, nós precisamos entender o que isto significa. A palavra transubstanciação significa, literalmente, a “Transformação da substância”. “Substância” refere-se àquilo que é a essência da coisa. Logo, “substância” e “essência” são sinônimos. Por exemplo, o homem é essencialmente composto de corpo, alma, intelecto e vontade. Se você remover qualquer um destes elementos, isto irá descaracterizá-lo como pessoa humana. Os acidentes são coisas como a cor do cabelo, a cor dos olhos, tamanho, peso, etc. Podemos mudar qualquer uma destas coisas e não haverá mudança alguma na essência ou na substância da pessoa.
Na Eucaristia, após o padre consagrar o pão e vinho e eles serem, de fato, transubstanciados no corpo, sangue, alma e divindade de Nosso Senhor, Nosso Senhor estará, então, inteiramente presente. Nem o pão, nem o vinho permanecem. No entanto, os acidentes do pão e do vinho (tamanho, peso, gosto, textura) permanecem. Portanto, a razão essencial dos católicos não serem culpados de canibalismo é o fato de que não recebemos Nosso Senhor numa forma canibalística. Nós o recebemos na forma de pão e vinho. Os dois são qualitativamente diferentes.
Para aprofundar um pouco mais neste assunto, irei sugerir a existência de pelo menos 6 motivos pelo qual a Eucaristia e o canibalismo são qualitativamente ou essencialmente diferentes.
- No canibalismo, a pessoa consumida é, de uma maneira geral, assassinada. Jesus não é assassinado. Nós recebemos seu corpo ressuscitado e não o afetamos minimamente. De fato, ele não muda nem um pouco. Ele que nos muda! Isto não tem relação alguma com canibalismo.
- No canibalismo, apenas parte da vítima é consumida. Não se como os ossos, tendões, etc. Na eucaristia, nós consumimos cada parte de Nosso Senhor, olhos, cabelo, sangue, ossos, etc. Mas, novamente, enfatizo que fazemos isto sob as aparências do pão e do vinho. Isto é essencialmente diferente do canibalismo, o que nos leva ao próximo motivo:
- No canibalismo, os acidentes do sangue e corpo são consumidos. Rasga-se a carne, bebe-se o sangue, etc. Na Eucaristia, nós apenas consumimos os acidentes do pão e do vinho. Isto não é canibalismo.
- No canibalismo, consome-se apenas o corpo, não a pessoa. A pessoa e sua alma já partiram. Na Eucaristia, consumimos a pessoa inteira de Jesus Cristo, corpo, sangue, alma e divindade. Não se pode separar o corpo de Cristo de Sua Divina Pessoa. Portanto, isto é uma comunhão espiritual, assim como, um consumo físico. Nós nos tornamos um com Cristo num sentido místico, neste sacramento. Isto está longe de ser canibalismo.
- No canibalismo, recebe-se nutrição temporal e fugaz. Na Eucaristia, recebemos a divina vida de Deus através da fé e recebendo Nosso Senhor bem dispostos, i.e. nós recebemos a vida eterna. (cf. João 6:52-55). Isto é essencialmente diferente do canibalismo.
- No canibalismo, uma vez que se come a carne da vítima, ela se vai para sempre. Na Eucaristia, podemos consumi-lo todos os dias e, assim como mencionado no #1 nós não o mudamos nem um pouco. Ele permanece o mesmo.
Pensamentos finais
É necessário sempre ter cuidado ao aplicar termos e conceitos a Deus. Muitas pessoas erram no que diz respeito à fé porque cometem o erro de aplicar termos de maneira humana a Deus que é infinito. Podemos falar dos Mórmons que afirmam que Deus Pai tem um corpo físico porque as Escrituras falam das “costas”, em êxodo, ou “da mão de Deus”, ou “dos olhos de Deus”, etc. Você provavelmente já ouviu a réplica clássica a essas afirmações mórmons: “O Salmo 91 se refere às ‘penas e asas’ de Deus. Isso significa que Deus é algum tipo de pássaro?”
O erro aqui, é claro, está enraizado na interpretação de textos que não se destinavam a ser usados em um sentido estrito e literal, como se fossem. “Costas” tem que significar “Costas”, certo?
Quando se trata da Trindade, alguns que negam esse ensino essencial, alegarão que os cristãos estão ensinando Deus como “três seres” porque dizemos que Deus é “três pessoas”. No entanto, pessoa, no que se refere a Deus, não significa que existam três seres. Há uma diferença essencial entre “pessoa” no que se refere a Deus e “pessoa” no que se refere aos homens e anjos.
Poderíamos citar uma miríade de exemplos contendo problemas semelhantes.
Quando se considera os opositores que rejeitam a Eucaristia e, mais especificamente, aqueles que acusam os católicos de canibalismo porque dizemos que “consumimos” o Senhor na Eucaristia, corpo, sangue, alma e divindade, falham em compreender o que realmente queremos dizer com consumir o Senhor. Eles acabam se opondo assim como os “judeus” incrédulos de João 6:52, que disseram: “Como este homem pode nos dar sua carne para comer?”
Se pensarem em uma refeição de sangue canibal, ele não pode. Mas se você entender, como Jesus disse: “É o Espírito que vivifica, a carne para nada serve, as palavras que eu vos digo são Espírito e vida”, então você entende. A Eucaristia representa um milagre realizado pelo poder do Espírito Santo.
Deus pode fazer isso.