Entrevista com o Santo Padre Bento XVI
(durante o voo rumo ao Reino Unido)
Quinta-feira, 16 de Setembro de 2010
Pe. Federico Lombardi: A figura do cardeal Newman é muito significativa para Vossa Santidade: pelo cardeal Newman, faz a excepção de presidir a sua beatificação. Pensa que a sua recordação possa ajudar a superar as divisões entre anglicanos e católicos? E quais os aspectos da sua personalidade que deseja evidenciar?
Santo Padre: O cardeal Newman é sobretudo, por um lado, um homem moderno, que viveu todo o problema da modernidade, viveu também o problema do agnosticismo, da impossibilidade de conhecer Deus, de crer; um homem que durante toda a sua vida esteve a caminho, no caminho de se deixar transformar pela verdade, numa sua busca de grande sinceridade e de grande disponibilidade para conhecer melhor e encontrar, aceitar o caminho para a vida verdadeira. Esta modernidade interior do seu ser e da sua vida implica a modernidade da sua fé; não é uma fé em fórmulas de um tempo passado, é uma fé de forma muito pessoal, vivida, sofrida, encontrada num longo caminho de renovação e de conversões. É um homem de grande cultura que, por um lado participa na nossa cultura céptica de hoje, na questão se podemos compreender algo de certo sobre a verdade do homem, do ser ou não ser, e como podemos chegar à convergência das probabilidades. Um homem que, por outro lado, com uma grande cultura do conhecimento dos Padres da Igreja, estudou e renovou a génesis interna da fé, reconheceu assim a sua figura e a sua construção interior. É um homem de grande espiritualidade, de grande humanismo, um homem de oração, de uma relação profunda com Deus e de uma relação pessoal e por isso também de uma relação profunda com os outros homens do seu e do nosso tempo. Por conseguinte, indicaria estes três elementos: modernidade da sua existência, com todas as dúvidas e problemas do nosso ser hoje; grande cultura, conhecimento dos grandes tesouros da cultura da humanidade, disponibilidade para a busca permanente, de renovação permanente; e espiritualidade: vida espiritual, vida com Deus, conferem a este homem uma excepcional grandeza para o nosso tempo. Por isso, é uma figura de Doutor da Igreja para nós, para todos e também uma ponte entre anglicanos e católicos.
16 de Setembro de 2010
Disponível em: http://w2.vatican.va/