Geralmente o versículo mais usados pelos protestantes para apoiar essa doutrina é: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (II Timóteo 3:16).

 

Os católicos também acreditam nisso, toda Liturgia, todo documento do Magistério, o Catecismo, os escritos dos Santos, tudo está repleto de textos bíblicos, mas onde está escrito “APENAS a Escritura …” na Bíblia? Dizer “apenas a escritura” é o que a doutrina da Sola Scriptura defende. A Bíblia não dá base a isso. O conceito da Sola Scriptura é extrabíblico. Nesse sentido ele é auto-contraditório. Mas não apenas isso, além de extrabíblico, ele também é antibíblico. Antibíblico porque são várias as passagens Bíblicas que demonstram haver outra autoridade além da Escritura. Principalmente a autoridade dos apóstolos, do corpo docente da Igreja, este Corpo Docente, em sua continuidade, os Bispos, é que definiram o que faria parte da Bíblia (o cânon bíblico, a lista dos livros) e fizeram concílios para resolver questões religiosas. A parte disso, a Bíblia em várias passagens diz que nem tudo está escrito, como, por exemplo, quando Paulo diz aos Tessalonicenses para que se guardassem as tradições orais e que esses cristãos devem se apartar de quem não anda segundo a tradição recebida.

 

Os protestantes ainda dizem: mas a Bíblia tem autoridade, é a Palavra de Deus, e tradições, como a tradição católica, não devem contradizê-la! Aí está algo interessante: os católicos concordam com isso! Tradições humanas não devem contradizer a Sagrada Escritura, que tem sim autoridade (mas não é a única autoridade, coisa que ela também nunca afirma, pelo contrário, afirma o oposto disso, como em 1 Timóteo 3:15). A Bíblia é autoridade para a Igreja, assim como a Tradição (vide acima) e o Magistério (a Bíblia também fala disso, leia Atos dos Apóstolos, lá está o primeiro concílio da Igreja, a própria Bíblia é filha e resultado do trabalho da Igreja e não o contrário). Nenhuma parte da doutrina católica contradiz a Bíblia. Orações aos santos e/ou Maria, a imaculada concepção, os sacramentos, indulgências e autoridade papal. Tudo isso está ou diretamente ou indiretamente na Bíblia, ou em último caso, não está, mas não contradiz a Palavra de Deus (afinal, a Bíblia nunca diz que tudo está lá, pelo contrário, afirma o oposto disso).

 

Há aí um problema que não é tanto o que é Bíblico ou não, o que está na Bíblia ou não, os protestantes no seu próprio âmbito religioso já tem problema com isso sem colocar os católicos no meio.

 

 

A discussão entre eles sobre o que é Bíblico ou não é infinita, a livre interpretação de cada pessoa, claro, sempre “inspirada pelo Espírito Santo” os fez criar milhares de denominações, cada uma conflitante com a outra, com doutrinas e práticas diferentes, cada uma dizendo que “isso é Bíblico” e a outra dizendo “isso não é Bíblico”, ou ainda “Isso é pecado” ou “Isso não é pecado”. Existem mais de 25 mil confissões protestantes. Cada uma delas afirma seguir o Espírito Santo e o sentido autêntico da Escritura. Por exemplo, algumas denominações batizam crianças, outras não. Alguns dizem que beber é pecado, outras não. Alguns afirmam que deve-se guardar o sábado, outras o domingo ou ainda nenhum dia. Para outras é necessário ter o batismo com o Espírito Santo, essa seria a conversão verdadeira e superior, para outras não. Qual a natureza desse batismo com o Espírito Santo? Cada um vai falar alguma coisa. E a natureza da Salvação, da Graça, do Arrependimento, da Predestinação? Cada um tem uma crença. E o número dos sacramentos? Cada um define. Alguns nem sacramentos admitem, outros admitem “ordenanças” apenas. Os que têm alguma forma de Ceia/Eucaristia também diferem no que acreditam sobre isso. Alguns pregam a Trindade, outros negam. Uns tem bispos, outros apenas presbíteros, já outros não tem nenhuma hierarquia. Uns celebram a Ceia, outros nunca o fazem. Uns usam suco de uva, algo que Jesus nunca usou. Uns tem liturgia, outros a abominam. Uns aceitam pastoras, outros não. Muitos já aceitam o divórcio, outros não. Para uns as denominações hereges são essas e aquelas. Para outras as denominações hereges são fulano e ciclano. Já para outras ninguém é herege, e há ainda aqueles para as quais todas são hereges, exceto ela própria. Assim por diante. A única coisa que une todas essas fés completamente diferentes, de forma unânime, é a crença de que a Igreja Católica está errada. A questão não é se a Igreja Católica ensina algo contrário à Bíblia e sim se ensina algo contrário a SUA interpretação da Escritura. O Primeiro Papa, Pedro, disse: É o que ele (São Paulo) faz em todas as suas cartas, nas quais fala nestes assuntos. Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras.

 

2 Pedro 1:20 “Nenhuma profecia da Escritura é de particular intepretação.”

Não há como a autoridade ser a Bíblia pura e simplesmente, pois alguém precisa ler a Bíblia e interpretá-la. O conceito protestante do “Apenas a Bíblia é autoridade de fé” facilmente se torna “Apenas eu tenho autoridade interpretar a Bíblia e dizer o que é a regra de fé”. É necessária alguma autoridade para ler a Escritura e explicar, interpretar o que tem lá. Qual é a autoridade protestante? É a si mesmo. Cada protestante é seu próprio Papa. Claro, que você pode confiar no seu Pastor, dar autoridade para ele. É comum ouvir um protestante dizer sobre algum assunto espinhoso “vou perguntar ao meu pastor”. Entretanto, o problema permanece. Como você pode confirmar que seu Pastor está certo sobre a Bíblia e o outro Pastor/fiel está errado? Ao ser perguntado isso ou a pessoa cai em si ou responde algo como “O Espírito Santo irá me iluminar e Deus irá me mostrar a verdade, confirmando a interpretação do Pastor por meio da própria Bíblia”, ou seja, a autoridade é a própria pessoa pensando estar sendo guiada pelo Espírito Santo para interpretar e entender a Bíblia de forma solitária e talvez contra toda a Tradição da Igreja e toda autoridade da Igreja estabelecida por Cristo (algo completamente antibíblico).

 

 

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