Me chamo Demétrio e nasci dia 3 de Maio de 1993, nasci na capital paulista e cresci na grande São Paulo. Sou casado com a Tamires e, no momento que escrevo, tenho 3 filhos, a Audrey, o Anthony e o Albert.
Minha família inteira sempre foi da Congregação Cristã no Brasil (que chamarei de CCB para facilitar), eu era a quarta geração nesta igreja, sendo o meu bisavô convertido nos primeiros anos da fundação desta igreja, todos os meus avós, tios e primos sendo da CCB.
A família de minha esposa também é da CCB, sendo que minha esposa e eu nos conhecemos na Igreja e tínhamos em nós bem enraizado a doutrina e os costumes desta igreja.
Para quem não conhece, vou dar uma breve explanação: a CCB é uma igreja onde os costumes e a moral e a questão “estética” (uso este termo por falta de um melhor, por isso as aspas) como um todo, são levados muito a sério.
Apesar das igrejas serem totalmente brancas, em geral são bem bonitas e cuidadas; a musicalização do culto é música clássica, sempre presente uma orquestra com órgão eletrônico (sempre proporcional ao tamanho da igreja), fazendo com que todo culto na CCB seja um concerto de música clássica, algo realmente admirável.
Apesar da CCB não se declarar deste modo, ela é uma igreja Pentecostal “clássica” sendo em alguns lugares mais “neo-pentecostal”, já que acredita em profecias, falar em línguas, visões, sonhos, revelações e, uma coisa que é bem católica, a proteção dos anjos ao fiel (anjos da guarda).
O voluntarismo também é forte, sendo todo trabalho feito pelos irmãos da CCB de forma voluntária sempre. O conceito de tradição também é muito forte, apesar de não ser explícito, uma vez que estudar a fé é algo não recomendado e, até pouco tempo atrás, proibido. Mas todo o ensino da doutrina e dos costumes da CCB vem na forma de tradição.
Justamente esta ausência total de estudos por parte da igreja me levou na fase adulta a querer entender a Bíblia profundamente por dois motivos:
- Entender como eu devia agir como marido segundo a bíblia (tinha começado a namorar e queria entender o porte cristão do marido segundo as escrituras) e
- Ser um apologista/evangelizador da CCB, muito por questionamentos de colegas e amigos a respeito da igreja e da doutrina, queria ter argumentos sólidos para defender a fé da CCB e fazer com que as pessoas se convertessem à esta igreja.
A primeira coisa que me surpreendeu foi descobrir minha profunda ignorância sobre a Bíblia. Coisas extremamente importantes que as Sagradas Escrituras ensinavam como um todo me eram totalmente desconhecidas (como Jesus ser Deus, a segunda Pessoa da Trindade Santa), justamente por falta de um estudo, por mais simples que ele fosse.
A segunda é que a CCB tinha uma crença muito acertada sobre muitas das doutrinas bíblicas (como a presença real na Santa Ceia ou a estrutura organizacional da Igreja, que é praticamente igual a Católica) mas isso simplesmente não era explicitamente explicado, mas subentendido, isso porque das vezes que questionei o meu ministério local ou quando procurava alguma fonte de explicação da CCB, quando havia uma explicação, geralmente não era uma coisa muito bem embasada na Bíblia ou na história. O que me levou a crer que muitas vezes a CCB acertava bem, mas de forma totalmente acidental.
Comecei então a estudar as soterologias protestantes e a história das igrejas, mas nenhuma me pareceu tão sólida ao ponto de me convencer a sair da CCB, por fim, me identifiquei com o molinismo (que é uma soteriologia católica aceita por protestantes) e continuei na CCB.
Pois em tudo isso, me deparava com doutrinas totalmente opostas com base nas exatas mesmas passagens bíblicas, a exemplo, se o batismo salva ou não, se batiza crianças ou somente adultos, se a fé salvífica vem sem batismo ou é infusa através do batismo etc… Os exatos mesmos versos com doutrinas opostas, sentia que havia algo errado com o próprio protestantismo, então voltei-me a estudar com mais cuidado os reformadores e o objeto a ser reformado, que seria a Igreja Católica.
Neste momento, pela primeira vez olhei a doutrina e a história católica com o intuito de honestamente entendê-la, mas com o objetivo claro de não aceitá-la.
Pois ao me deparar com os argumentos da contra-reforma, daquilo que eu sentia que tinha algo de errado, comecei a entender realmente qual era o erro protestante, as doutrinas protestantes eram definidas apenas por uma pessoa ligada a uma igreja, quando alguém tinha uma ideia diferente, outra igreja surgia… Não havia uma tentativa de coesão mútua, mas um péssimo hábito de cisma atrás de cisma, “reforma” atrás de “reforma”, mas jamais fazer uma grande convocação para debater, uma vez por todas, qual a doutrina correta: protestantes não fazem concílios, fazem cismas.
Neste ponto, eu sabia que não dava mais ser protestante, pois os apóstolos resolviam as coisas de forma conciliar, mas também não queria ser católico.
Foi nesse momento que entrei em desespero. A cada argumento protestante, via um contra argumento católico mais fundamentado e indo num ponto onde a própria lógica protestante se mostrava errada. Via-me indo para a Igreja Católica, mas eu não queria acreditar, não podia aceitar, sempre acreditei que a Igreja Católica era corrompida pelo diabo, uma igreja idólatra, que se quer poderia ser chamada de cristã! Como poderia acreditar que era a igreja verdadeira de Jesus Cristo?
Entendia os argumentos católicos, mas não os considerava explicitamente bíblicos, não via nenhuma doutrina exclusivamente Católica explicitamente/literalmente escrito na Bíblia (Nuda Scriptura), mas sempre como algo subentendido, o que não me convencia.
Sempre gostei de estudar teologia, filosofia, teoria econômica, teoria política (e outras coisas) e acompanho alguns canais que tratam destes e outros assuntos. Porém, para a minha surpresa, um dos canais de economia e filosofia, que não tratava de Teologia, fez um debate teológico com um ateu. Neste debate, em menos de uma hora, ele fez com que o ateu dissesse que Deus existia apenas com argumentação lógica.
Nas considerações após o debate, ele apareceu falando com uma pequena imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus ao fundo, aquilo me surpreendeu, então nos comentários fiz uma pergunta como: “Olha, vi que é católico… Como você pode acreditar no Purgatório?” (para mim, purgatório não estava na Bíblia e todos os teólogos protestantes que tive contato diziam o mesmo) e ele respondeu algo como: “Oras, é bíblico e lógico: se a Bíblia nos diz que todos pecam e no céu não há e não entrará pecado e seremos plenamente santos… Como que alguém morre com pecado e entra no céu sem ele, sendo santo?”. Eu fiquei perplexo, senti um frio na espinha e meu estômago embrulhou e me perguntei: “Verdade… Como?”.
Quando um protestante simplesmente não ignora o assunto ou não aceita o salto lógico, cai em duas situações: ou acredita no purgatório (como é o caso de C.S. Lewis) ou vai numa linha como a de Lutero, que dizia que Deus nos cobrirá com um manto de glória, e assim como um cocô fica escondido embaixo da neve alva, e ao olhar a neve você vê apenas branquidão e nenhum cocô, Deus olhará para nós e verá a Sua própria glória que nos envolve, enquanto nós seremos os pecadores de sempre… O problema disso é que vai contra a própria Bíblia e é um absurdo completo.
A lógica católica havia me ganhado, mas eu queria evidência clara na Bíblia, então busquei as bases bíblicas do purgatório e, depois de muito pesquisar e ler, li em I Coríntios 3, do verso 9 ao 17, a descrição exata do purgatório, ainda, no verso 15, ressaltando como seríamos salvos pelo fogo, se tivéssemos algo a ser purificado. A descrição exata do purgatório ilustrada pelo Apóstolo Paulo na Bíblia, onde a Santa Igreja apenas pôs um nome: purificar pode ser chamado de purgar, processo/estado de purificação: purgatório.
Ali encontrei a exata descrição do purgatório, a base bíblica para uma doutrina exclusivamente católica, uma sensação de alívio e desespero me tomou conta: alívio, pois achei a base bíblica explícita para uma doutrina católica; desespero, pois entendi que a única doutrina que poderia estar 100% completa, entre todas as doutrinas cristãs, era a católica, pois tem purgatório na Bíblia e protestantes não crêem no purgatório.
Em todas estas etapas, conversava eu com minha esposa sobre o que ia descobrindo, ela me questionava, contrapunha as ideias para provar se realmente estava indo para um caminho que fazia sentido, enquanto estava no “campo protestante” tudo ia bem, mas quando atravessei para a seara católica, ali então começou uma tensão, pois assim como eu não queria ir para a “igreja da idolatria” ela também não queria, ela já anteviu que eu ia para a Igreja Católica antes de eu perceber, me dizendo coisas como: “Você está indo muito rápido”, “Se eu quisesse ter casado com um católico, eu teria casado com um católico!” ou “Se continuar desse jeito, vai acabar se convertendo, é melhor parar!”
A mesma aflição que eu sentia, ela também sentia. Prometi a ela (ou ela me fez prometer, não me lembro) que não iria para outra igreja sem ela, e de fato assumimos a conversão juntos.
Minha conversão teve “duas chaves viradas”, a primeira foi o purgatório. O segundo, a própria bíblia.
Quando descobri que os livros corretos da Bíblia foram decididos por concílios (de Roma em 380 e Cartago em 397) vi como a própria noção de Bíblia bem definida é católico, pois se o método protestante de “eu discordo, vou fazer outra igreja do meu jeito” fossem aplicados na igreja primitiva, simplesmente seria impossível a Bíblia como a conhecemos hoje. Só de evangelhos tinham, pelo menos, 14 livros diferentes, seria impossível, se a Igreja não se mantivesse coesa como uma única igreja, que tivéssemos os 4 evangelhos em nossas bíblias hoje.
Havia quem defendia só um evangelho, outros defendiam mais de 10, mas a Igreja, nos concílios citados, definiram os 4 evangelhos (segundo Mateus, Marcos, Lucas e João) como canônicos (verdadeiros/corretos), por exemplo.
Além do mais, Mateus, Marcos e Lucas não se apresentam em seus escritos, Marcos e Lucas não eram dos 12 apóstolos, Lucas sequer viu Nosso Senhor… São livros tão improváveis de serem considerados verídicos por si próprio, que somente a Tradição poderia assegurar que são verdadeiros, e foi exatamente isso que foi feito, por Tradição da Igreja, se acreditava que Lucas é o autor do que chamamos Evangelho segundo Lucas, que recebeu “aval” de Paulo e por isso é canônico.
Se eu não acredito na Tradição da Igreja Católica, não posso acreditar que o Evangelho segundo Lucas deva estar na Bíblia. Mas não vejo evangélicos arrancando Mateus, Marcos e Lucas de suas Bíblias por ter sido “uma definição católica”, antes simplesmente aceitam a decisão do Sagrado Magistério baseado na Sagrada Tradição do que são as Sagradas Escrituras.
Como diz Santo Agostinho de Hipona (que presidiu o concílio de Cartago em 397 sobre a definição do cânon bíblico): “Eu não creria no Evangelho, se a isso não me levasse à autoridade da Igreja católica”, isto é, eu só sei que os Evangelhos são autênticos, porque a Igreja disse que são.
Essa foi a segunda chave que virou na minha conversão.
Neste processo eu pensei comigo: “Será que existe mais gente que se converteu ao catolicismo?” e buscando, encontrei o site do Apostolado Cardeal Newman e sua página no Youtube. Vi alguns vídeos, li alguns testemunhos, vi que existia este processo de conversão de ex-protestantes. Então, diante disso, entrei em contato com o Apostolado e conversei com o, hoje, Padre Jeferson. Lembro que a descrição que dei sobre tudo o que estava acontecendo era “assustador” e realmente estava simplesmente assustado com o que acontecia, justamente para demonstrar que não foi algo desejado ou esperado.
Minha esposa e eu não tínhamos abraçado a fé de uma vez, ainda estávamos ainda na incerteza do início do processo de conversão, pois então, busquei uma paróquia em um local onde ninguém poderia nos reconhecer (nem muito longe, nem muito perto). Achei a Paróquia Sagrado Coração de Jesus em Santo André, fui assistir uma missa num sábado de manhã, às 07hrs.
Nunca tinha entrado no prédio de outra igreja na minha vida, muito menos assistido uma missa. Me assustei com sino no início da missa, fiquei perdido com o andamento da missa… Mas maravilhado. Eu sempre acreditei na Presença Real quando era da CCB, sabia que na Santa Ceia, ali era realmente o Corpo de Cristo. Quando vi a consagração eucarística, fiquei fascinado, meu Deus estava diante dos meus olhos.
Depois desta missa, eu voltei, conversei com o padre, depois fui novamente com minha esposa e filhos, e depois de novo e de novo… Abraçamos a fé e nunca mais paramos.
Contato: