Algumas divergências dentro do protestantismo são de ordem puramente teológica, filosófica ou ainda intelectuais e imateriais. Outras, porém, são de ordem prática e afetam direta e irremediavelmente a vida das pessoas.
Um desses exemplos, para mim o mais categórico, é o da segunda união. Imaginemos um casal que chegue em uma igreja protestante, comece a participar dos cultos, se sintam bem nesses cultos e se sintam impelidos a fazerem parte dessa igreja como membros. Eles então, se dirigem ao pastor e contam a sua condição matrimonial, onde um dos dois é divorciado e agora está casado com a companheiro(a) atual. Eles interrogam, então, se a situação deles é regular diante de Deus e se haveria algum impedimento para que se tornassem membros desta igreja.
O que o pastor responderia em um caso como esse? Bem, depende de sua corrente teológica. Algum pastor diria que só existe um casamento e que uma vez feito só se dissolve com a morte, portanto, esse união atual seria ilícita, impedindo a membresia caso se insistisse nessa condição. Outro diria que, se o casal estava crendo em Cristo agora e depositando nele a sua esperança, então o que importa é daqui para frente, sendo a união aceita como legítima e membresia na igreja permitida. Ainda outro gostaria de saber o motivo pelo qual a primeira união foi desfeita. Foi por adultério da outra parte? Se sim, a segunda união seria aceita como legítima.
Ao ouvir uma dessas opiniões, o casal teria a opção de atravessar a rua e perguntar para o pastor da outra igreja. Escolhendo a opção que mais lhes parecesse bíblica e coerente. Sem entrarmos na resposta católica para essa questão de ordem prática e tão delicada, vamos focar na problemática protestante.
Como aquele pastor poderia dormir tranquilamente quando pôde ter levado aquelas pessoas a uma das opções abaixo mencionadas?
- Uma família que seria desfeita. Caso o veredito da segunda união fosse que se tratava de uma união inválida ou ilícita;
- Duas pessoas não casadas que vivem juntos como se o fossem, e que continuamente cometeriam o grave pecado do adultério;
Como esse pastor poderia ter certeza de que sua leitura do texto bíblico é a mais correta, em detrimento de seus companheiros de ministério? A resposta é, objetivamente nunca saberia.
Independentemente da visão soteriológica defendida por esse pastor, ele estaria fadado a gerar um mal resultado na vida dessas pessoas que o procuraram. Se fosse adepto de uma visão calvinista, poderia estar dificultando a comunhão perfeita dessas pessoas com Deus, pela prática contínua de um pecado grave de adultério. Se fosse arminiano, de uma linha wesleyana, poderia estar levando aquelas pessoas à perda da salvação, pelo pecado contínuo e não confessado.
Como resolver esse problema, de forma objetiva, na visão protestante mais disseminada, que se baseia, de algum modo, no Sola Scriptura? Não sei, querido leitor, só sei que, como ex ministro batista, não consegui viver com isso. Escolhi pertencer a uma Igreja que é a expressão visível do Corpo de Cristo, e que me diz como somente meu Senhor diria:
palavras da vida eterna-João 6:68
Autor: João Carlos Fachini