Como fui atraído pela verdadeira Igreja de Cristo


Quando nasci, meus pais me levaram para ser batizado na Igreja Católica, e com bem poucos meses de vida. Porém, meu pai era espírita, não católico, e cresci totalmente alheio à fé verdadeira. Quando criança fui uma única vez à missa, e pouca atenção prestei à celebração. Enfim, após alguns anos, tendo por volta de sete anos de idade, meus pais passaram a ser evangélicos, e fui junto com eles. Para encurtar a história: até meus dezenove anos, passamos por várias “igrejas”, indo duma Universal para uma Metodista, depois Quadrangular e, por fim, numa situação um tanto complexa, meu pai tornando-se pastor numa outra comunidade menor. 

Aos dezoito conheci minha esposa, com quem me casei um ano depois. Ela havia se tornado evangélica havia pouco tempo; meu pai mesmo presidiu a cerimônia. Após uns dois anos sem frequentarmos continuamente nenhum ministério, passamos a congregar numa Assembleia de Deus, onde logo assumi as tarefas de cantar, tocar e ensinar adultos numa classe de escola dominical. Era um ministério um pouco mais liberal do que as Assembleias tradicionais, especialmente em relação aos chamados usos e costumes (roupas, cabelos, etc.). 

Passado algum tempo nestas obrigações, e tendo um ávido interesse por aprendizado filosófico e teológico, busquei aprender as doutrinas fundamentais da nossa crença, e também acabei tendo contato com outras linhas teológicas. A Assembleia é majoritariamente arminiana, e hoje em dia há um forte embate entre estes e os calvinistas nos vastos campos da discórdia conhecidos como redes sociais… Enfim, busquei aprender os dois lados, fiz curso de teologia juntamente a outros “obreiros” daquela comunidade, e tudo caminhava da mesma maneira por anos a fio… 

Uma coisa que sempre me acompanhou foi a forte tendência para a crítica; isto me levava a repudiar movimentos como vemos comumente principalmente em meios pentecostais e neopentecostais: moveres, unções, arrebatamentos, e outras supostas operações do Espírito. Outra crítica que sempre fiz, especificamente à doutrina pentecostal, e que me colocava numa encruzilhada, era sobre a necessidade de se receber o sinal das línguas estranhas como confirmação do “batismo no Espírito Santo”; esta distinção de dois batismos sempre me pareceu algo forçado, e a necessidade das línguas como evidência do tal batismo também. 

Em meados do ano 2008, conheci, como muitos àquela época, a figura do professor Olavo de Carvalho. Após muito ouvi-lo, outras figuras foram chegando, e uma delas foi o Pe. Paulo Ricardo. Por vários anos os ouvi, principalmente o professor, ingressando, por fim, no seu curso de filosofia em 2016. Acabei saindo após algum tempo, mas o início do seu curso me fez reavaliar as minhas crenças, o porquê de crer naquilo que eu cria. Lembro-me que foi numa época em que eu estava sem televisão e com uma internet limitadíssima na minha casa, o que me forçou a meditar, e a meditar bastante; não havia muitas distrações para me atrapalhar. 

O golpe de misericórdia começou a chegar neste mesmo ano, quando o tema das lições da escola dominical foi o Apocalipse de João. A crença pentecostal, em geral, traz o dispensacionalismo como explicação das diferentes eras, explicando o final dos tempos como um período em que a igreja seria arrebatada, haveria anos de tribulação e, por fim, Cristo voltaria a terra para reinar literalmente em Jerusalém por mil anos, o famoso milênio do capítulo vinte do Apocalipse. A mim, toda esta teoria sempre pareceu um tanto esdrúxula, forçada também. Não conseguia entender, por exemplo, como ainda haveria uma grande tribulação com tantos irmãos já tremendamente perseguidos e torturados por todo o planeta (Vide a igreja nos países islâmicos ou comunistas, por exemplo). Ensinar aquilo foi muito difícil. Para piorar, o “resto” do golpe veio com as aulas que minha esposa, que lecionava aos adolescentes na escola bíblica, dava. O tema era a História da Igreja… Via aquilo e ficava horrorizado, pois já havia tido contato com historiadores que desmentiam tudo o que era exposto naquelas lições, a saber: os mitos da Inquisição, com milhões de pessoas mortas, a perseguição da Igreja Católica a supostos “verdadeiros cristãos” (que na verdade eram hereges), a exaltação de Lutero como salvador da verdadeira igreja, etc. Como bom crítico, me enfezei com tudo aquilo, e comecei a “fuçar” ainda mais sobre história da Igreja, indo cada vez mais para trás, chegando então aos Padres da Igreja, à Patrística. Foi aí que se “rompeu o lacre”… Via ali, nos primeiros defensores da fé, não uma igreja como a que eu participava, mas a semente da doutrina católica brotando, explicitamente. 

Procurei mais ainda conhecer o que a Igreja Católica realmente ensinava, percebi que não seria qualquer um que me ensinaria corretamente. Aqui, além do próprio professor Olavo e do Pe. Paulo Ricardo, tive também o auxílio dos textos do professor Carlos Ramalhete, e do site Veritatis Splendor e O Catequista, dos estudos patrísticos do site dos Apologistas Católicos, e do próprio Catecismo, que comprei e comecei a ler por minha própria conta. 

Outra coisa que me auxiliou bastante foram alguns vídeos de pessoas defendendo a Igreja com consistência, com vigor; e, por fim, ter lido o livro sobre a conversão do Scott Hahn também elucidou muita coisa sobre o meu próprio processo de conversão. Só um adendo: antes de sairmos do protestantismo, minha esposa conheceu, como que por acaso, o padrinho de nossas filhas, um rapaz chamado Rodrigo, numa pracinha perto de casa (!!!).

Providência divina! Conversa vai, conversa vem, o rapaz também era aluno do Olavo, do Pe. Paulo Ricardo, e estava por dentro de muitos assuntos com os quais também tínhamos contato. Ela o adicionou como amigo no Facebook. Ele ainda voltará nesta história… Por fim, após alguns meses de intenso debate e busca de conhecimento, resolvi que não dava mais para continuar no protestantismo. Ainda haviam questões a ser resolvidas, e minha esposa estava um pouco para trás no processo todo, começando a compreender aquilo que eu ia aprendendo e tentando ensinar. 

No dia 27 de setembro de 2016 (guardem bem esta data!), disse ao pastor daquela congregação, para sua total estupefação, que estava rompendo com o protestantismo, e iria me tornar católico. Após um “sermão” de mais de uma hora, em que ouvi sobre os “riscos espirituais” para minha alma, minha família, sobre a “idolatria mariana”, sobre eu estar “lendo demais”, e coisas do tipo, voltei para casa num estado de espírito tal que mal consegui dormir. Só quem fez esta experiência de conversão, estando tão enraizado no protestantismo, sabe como o trauma é grande… É como pular num abismo, sem saber onde se vai parar. 

No dia seguinte, fui afastado de todas as atividades daquele ministério, o que me deu um baita alívio. O pastor sempre me respeitou e, apesar das divergências surgidas, sempre me tratou como já tratava, como irmão. Tendo tempo livre, agora, passei a buscar conhecer ainda mais a fé. Porém, eu continuei naquele ministério ainda, por pelo menos seis meses. Minha esposa estava passando pelo mesmo processo comigo, mas estava um pouco “para trás” ainda, não por má vontade, mas por eu buscar mais constantemente a leitura e o aprendizado. O que eu aprendia, a ensinava. 

Por fim, em março de 2017, eu saí daquele ministério, e, com toda a boa vontade para com o protestantismo, ainda frequentei a Metodista, ministério mais tradicional, por uns dois ou três meses. Minha esposa veio um mês depois, e ao final deste tempo na Metodista, resolvemos deixar de frequentar qualquer igreja por um tempo até sabermos o que fazer. Eu já estava pronto para a Igreja, mas percebia que minha esposa ainda precisava dum tempo, e concedi. 

Lembram-se do Rodrigo? Pois é, ele volta aqui… Após uns dois meses em casa, um belo dia minha esposa me surpreendeu, dizendo tê-lo convidado a vir até nossa casa para tentar nos instruir sobre o que fazer, para onde ir. Ali, ela estava começando a aceitar a ideia de se tornar católica. Ele veio, e encontrou-me mais católico do que esperava. 

Eu o encontrei um verdadeiro católico, alguém que sabia que iria realmente me ajudar na caminhada; sabia não estar diante dum “jujubinha” (eu já estava esperto com a “jujubice”…), mas dum católico verdadeiro e fervoroso! E quão agradável foi a nós saber que ele era vicentino! (Lembram-se da data em que rompi com o protestantismo? Escrevi lá em cima, mas repetirei aqui: 27 de setembro, dia de São Vicente de Paulo; hoje também sou vicentino, a convite do mesmo Rodrigo). 

Por fim, em meados de setembro de 2017 (olha só, mês da Bíblia!), fomos à missa. Eu nunca tinha ido a uma missa de forma consciente; minha esposa fora batizada na adolescência, mas não chegou a aprender sobre a Igreja, virando evangélica com dezessete anos de idade; ela já havia participado de missas anteriormente. Desde então, estamos na barca de Pedro, na Igreja de Cristo! Batizamos nossas filhas, recebemos o sacramento do matrimônio e da confirmação. Pecadores, ainda, buscando a santificação, lutando diariamente pela salvação. Pela graça de Deus, outros membros de minha família, majoritariamente protestante, têm começado a se voltar para a Igreja, ou já voltaram. 


Esta é a história bem resumida da nossa conversão. 

Vou colocar aqui alguns pontos que me levaram a contestar o protestantismo: 

– Pra começar, o tal do Sola Scriptura: num texto do professor Ramalhete, ele explicava sobre o Sola Scriptura ser uma petição de princípio, uma exigência que as Sagradas Escrituras não cumprem sobre si mesma. A autoridade da Bíblia advém da autoridade da Igreja Católica, pois esta, inspirada pelo Santo Espírito, soube colher, unir e guardar os verdadeiros textos inspirados que compõem aquela; outro convertido, Dave Armstrong, também tem um ótimo texto explicando as dificuldades de se crer neste princípio; 

– A autoridade da instituição papal: este foi um problema difícil de ser aceito (passei meses tentando desviar da autoridade do papa). Qualquer congregação, eliminando o papa como autoridade, cria para si própria outra forma de autoridade que acaba por substituí-lo, ainda que aleguem isso não acontecer, ou suponham ser esta autoridade a Bíblia, porém, interpretada de acordo com os cânones daquela denominação em específico; São Cipriano de Cartago e outros Padres da Igreja me auxiliaram aqui; há também um vídeo de outro convertido, Steve Ray, onde ele explica as raízes da instituição papal; 

– Decorrente desses dois foi a questão da autoridade da Tradição e do Magistério da Igreja: toda comunidade protestante, por mais que repudie isto, forja para si mesma outra tradição e outro magistério, criando uma interpretação autorizada das Escrituras, que, obviamente, supõe-se naquela denominação ser a verdadeira, seja lá qual das centenas ou milhares de interpretações seja… mas todas as denominações repudiam o fato de a Igreja não autorizar a livre interpretação bíblica, confundindo isso com o livre exame. Eles dizem não confundir as duas coisas, mas, na prática, confundem, e usam sempre apenas uma interpretação autorizada. Se se sai disto, cria-se outra denominação. Vide, por exemplo, as querelas teológicas entre luteranos, calvinistas, arminianos, cessacionistas, pentecostais, adventistas etc… Qual interpretação é a verdadeira? Vai depender da denominação na qual você estiver. Se não concordar com uma, provavelmente você terá problemas… 

– Questões como o papel da Virgem Maria, a intercessão dos santos, a Eucaristia, vieram na sequência, sendo compreendidas com maior facilidade; 

– Outros pontos que tenho compreendido melhor após a conversão, e em que ainda busco me aprofundar, mas que são mais complexos para se explicar: 

– Tudo o que se refere a Nossa Senhora; Assistam aos vídeos do Dr. Brant Pitre, os que souberem inglês. As suas explicações sobre os dogmas marianos são espetaculares!; 

– As vidas dos santos: algo que devemos sempre estudar, meditar, ter aos nossos olhos! A Igreja é a riqueza do Universo, e a vida dos santos demonstra isto claramente. 

– As questões de tipologia e simbolismo do Antigo e Novo Testamentos. O protestantismo não tem uma verdadeira e profunda compreensão sobre os tipos e símbolos bíblicos, ou os rejeita em algumas partes. Por isso, não compreendem o papel de Nossa Senhora, da Igreja como Reino de Deus e Corpo de Cristo, do papa, etc., ou os compreendem erroneamente; 

– A necessidade de uma vida de verdadeira santidade, não sendo esta uma mera “vida bem regrada”, como entendem os protestantes, mas uma alteração substancial do nosso ser; 

– O protestantismo como decorrência do nominalismo filosófico dos tempos de Lutero; uma fé em que as coisas não são, mas aparentam ser; em que as realidades perdem sua essência, e tudo acaba se tornando mera projeção subjetiva (igreja, eucaristia, salvação, fé), ainda que não se perceba isto na prática; 

– O moderno pensamento laicista, o rebaixamento materialista da sociedade, como implicação das correntes de pensamento influenciadas pelo protestantismo e pelo iluminismo (Leiam o livro Politização da Bíblia, do Scott Hahn e do Benjamin Wiker, para entender melhor estes pontos). 


Leandro Henrique Dessart