Ecumenismo e a Unidade da Igreja – Diácono Jeferson Alves

Parte II

Concepção Católica de Unidade (a unidade no pensamento do Pai; o anelo ardente de unidade no Filho; a conservação da unidade pelo Espírito; a concretização da unidade no Colégio Apostólico e no Primado Petrino): O desígnio do Pai de redenção universal por meio do Filho tem como meta a unidade entre todos os homens, pois ele é “a Cabeça da Igreja, que é o seu Corpo. É o princípio, o primogênito dos mortos, tendo em tudo a primazia, pois nele aprouve a Deus […] reconciliar com Ele e para ele todos os seres, os da terra e dos do céu” (Cl 1,18-20). Cristo morre para “congregar na unidade todos os filhos de Deus dispersos” (Cf. Jo 11,52, grifo nosso).

Esta unidade foi objeto da oração sacerdotal do Senhor, antes de se entregar na cruz: rogou ao Pai pelos Apóstolos, como também por aqueles que acreditariam no futuro por meio do testemunho dos Apóstolos. O modelo perfeito de unidade é aquele que há entre o Pai e o Filho, modelo íntimo e forte, onde permanecem a distinção e conservação das Pessoas e a unidade de natureza: “Que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós” (Jo 17,21).  Nesse sentido, não basta que o desejo de Cristo permaneça como irrealizável ou num plano abstrato, ele precisa se manifestar no exterior, pois esta unidade deve ser um sinal “para que mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21).

O Senhor, antes de se imolar na cruz, dá um novo mandamento aos seus discípulos: “Que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,35-35). Portanto, o amor que Cristo deseja repudia todo e qualquer cisma, discórdia e separação entre os cristãos.

Sendo Cristo aquele que deseja a unidade, Ele envia o seu Espírito como princípio vital e a alma[1] que dá unidade ao Corpo de Cristo. O Espírito Santo não só opera, interna e misteriosamente, nos corações, mas também na vida externa da Igreja. O pensamento de unidade ressoa nas cartas de São Paulo: “Há um só Corpo e um só Espírito” (Ef 4,4-5);  “Pois fomos todos batizados num só Espírito para ser um só corpo, judeus e gregos, escravos e livres, e todos bebemos de um só Espírito” (1Cor 12, 13-14). Se o Espírito é o princípio de unidade, é Ele que distribui aos membros da Igreja as funções para que a Igreja seja edificada e não se desintegre. Portanto, é impossível que a ação do Espírito Santo gere separação, se isto acontece será obra dos homens, mas não do Espírito:

Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo; diversos modos de ação, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos. A um, o Espírito dá a mensagem de sabedoria; a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito; a outro, o mesmo Espírito dá a fé; a outro ainda, o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o dom de falar em línguas; a outro ainda, o dom de as interpretar. Mas é o único e mesmo Espírito que isso tudo realiza, distribuindo a cada um os seus dons conforme lhe apraz (1Cor 12,4-11).

O modo de conservar esta unidade, segundo o desejo de Cristo, reside na autoridade constitucional, pois toda e qualquer autoridade numa sociedade é princípio de unidade. Cristo ao fundar sua Igreja, alicerçou-a com autoridade, conferindo o ofício/encargo de ensinar autenticamente, ou seja, com autoridade, a doutrina que Ele deixou (Cf. Mt 28,18-20; Mc 16,15-16). Além disso, confiou o encarno de governar (Cf. Mt 18,18); santificar (Cf. Lc 22, 19; 1Cor 11, 24-25; Jo 20, 21-23; Mt 28, 19); ensinar e transmitir sua missão (Cf. Jo 20, 21).

O princípio colegial possui um elemento chave, isto é, aquilo que permite o encaixe e torne o todo harmônico: a autoridade primacial de Pedro, sem a qual o Colégio não subsiste (Cf. Mt 16,18-19; Jo 21, 15-17; Lc 22, 32). Não existe o Colégio Apostólico na ausência de Pedro. Por isso, o Primado Petrino é um poderoso princípio de unidade para a Igreja.

A promessa de dar a Pedro as chaves do Reino dos Céus, ou seja, plena e suprema jurisdição na Igreja (Cf. Mt 16,19), se concretizou mais tarde quando o Senhor o encarregou de apascentar suas ovelhas (Cf. Jo 21,15-17) depois que Pedro professou o seu amor ao Mestre. Apesar do Primado Petrino conceder unidade à Igreja isto se deve à pedra fundamental: a pedra angular, que é Cristo (Cf. Ef 2,20).

Nesse sentido, quando os Apóstolos vieram a faltar, não faltaram sucessores ao seu ofício e missão, bem como não faltou o sucessor de Pedro, no ofício do Primado e, assim, a Igreja deve continuar sua missão no decurso dos séculos, sabendo que o próprio Senhor se faz, está presente e guia a Barca de Pedro. É a autoridade hierárquica que impulsiona a unidade. Outro sinal de unidade da fé advém da unidade do culto: a celebração comum da sagrada liturgia e a administração dos sacramentos. A hierarquia apascenta de três modos: primeiro, com a doutrina e a pregação; segundo, com os sacramentos e o culto; terceiro, com o governo amoroso, na caridade. Dessa forma, a Igreja aparece e se mantém com unidade visível.

Por isso, o modelo de unidade é a unidade na Trindade de Deus, pois dela procede o princípio de unidade para a Igreja: desígnio do Pai, vontade do Filho e a graça do Espírito Santo a mantém.


[1] A expressão que o Espírito é como que a alma da Igreja é uma analogia e não uma definição ontológica.