O Mistério de uma Presença

No dia 11 de junho a Igreja celebra o mistério de uma Presença; o modo de presença por  excelência, a presença pessoal-sacramental de Cristo nas espécies, isto é, nas aparências, eucarísticas.

Naquela aparência de pão que não mais é pão, naquela aparência de vinho que não mais é vinho, é o próprio Senhor morto e ressuscitado, o Cordeiro de pé como que imolado, descrito no Apocalipse, que Se faz presente na Sua Igreja, em meio a nós, para dar a Sua Vida ao mundo.

Na Eucaristia, de modo particularíssimo – tão particular, que dizemos “presença real” – Cristo cumpre continuamente Sua última promessa: “Eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos!”

Hoje, a Igreja celebra o mistério da Presença indo às ruas do mundo inteiro em procissão. Quando surgiu a Solenidade de Corpus Christi, no longínquo século XIII, era fácil e óbvio, era apoteótico e triunfal ir às ruas com o Cristo-Eucaristia. O mundo ocidental de então era cristão – e cristão católico – e a presença do Senhor era palpável, perceptível, num mundo teocêntrico, impregnado do divino, empapado do sagrado.

Naqueles tempos quase metade dos dias do ano era de feriados religiosos. E ninguém estranhava, porque era viva a consciência de que o tempo é de Deus e, por isso mesmo, é também tempo do homem, tempo não só para o trabalho e a produção, mas também para o louvor, o descanso e o saudável ócio que faz com que não deixemos de ser humanos no momento do “negócio”…

Mas, os tempos mudaram. Hoje, mais que em qualquer outro tempo, é necessário que a Igreja vá às ruas com o Pão eucarístico. São ruas de um mundo sem Deus; ruas de um mundo no qual Deus é sentido como Ausência, porque O estamos exilando do nosso coração, de nossas famílias, de nossos negócios, de nossas relações, de nossas leis, de nossa Pátria, de nossa sociedade, de nossos esquemas de moralidade…

Sair em procissão, de modo solene e triunfal, com uma ínfima partícula de pão não fermentado, fininho e delicado, pode parecer algo sem sentido para o mundo, algo tolo, inútil, indigno da razão ilustrada e imanentista dos tempos hodiernos. E, no entanto, é precisamente desse testemunho que o mundo mais precisa hoje: de que os cristãos digam que Deus não está ausente, mas Ele mesmo é Presença, e presença encarnada na matéria desse mundo, na carne da nossa vida.

Ele é Presença sim! E não no que é grande, vistoso, midiático, mas no que é pequeno e humilde, banal e ínfimo, como um pedacinho de pão e um pouquinho de vinho.

Eis: a Eucaristia não somente testemunha a presença do Senhor, mas também o modo como Ele quer ser reconhecido na Sua presença: no que é simples, corriqueiro, pequeno, como os sofrimentos, o pranto, os pequenos momentos de vida, da família, do trabalho, do amor. Ele quer ser reconhecido como presença no que sofre, no que precisa de nós, nos que para o mundo não contam nada e não valem nada…

Hoje, Corpus Christi, ou como se diz também no Brasil, Corpo de Deus, lá vai a Igreja, louca de alegria, pasmo e fé, proclamando essa Presença, que faz o mundo ter sentido, o homem não se sentir sozinho e a vida encontrar um rumo, o rumo da eternidade. “E quando amanhecer o Dia eterno, a eterna visão, ressurgiremos por crer nesta Vida escondida no pão!”

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